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Filme ‘O Mundo Depois de Nós’: Julia Roberts encara o apocalipse em trailer da Netflix

O Mundo Depois de Nós” foi indicado ao National Book Award e na lista dos melhores de 2020 da revista New Yorker e de dezenas de jornais, entre eles o Guardian, o Washington Post e o Financial Times, esse é o terceiro livro do escritor americano Rumaan Alam, 46 anos, finalmente chega ao Brasil. E em dose dupla: nesta sexta-feira (8) estreia na Netflix o filme sobre a elogiada adaptação do thriller apocalíptico, dirigida por Sam Esmail (“Mr. Robot: sociedade hacker”).

A produção executiva é do casal Barack e Michelle Obama e a versão para a telinha conta com elenco repleto de outros nomes dourados: Julia Roberts, Ethan Hawke, uma ponta de Kevin Bacon e o vencedor de dois Oscars (por “Moonlight: sob a luz do luar” e “Green book — O guia”) Mahershala Ali, que rouba a cena. “São uns nomes assim meio mais ou menos , né?” brincou Alam, em entrevista por videochamada de sua casa no Brooklyn, em Nova York. “Quando o presidente Obama passou a citar o livro como um de seus favoritos, quase caí para trás, sei o quanto ele é ocupado. Ele conversou com o (Sam) Esmail sobre a adaptação por sua produtora. Cá estamos”.

Julia Roberts — Foto: Divulgação/Netflix
Julia Roberts — Foto: Divulgação/filme Netflix

Julia Roberts no elenco de “O Mundo Depois de Nós”

O Mundo Depois de Nós” começa com o famoso sorriso de Julia Roberts. Mas de modo nada óbvio. “Acordei hoje com o sol nascendo, vi as pessoas lá fora andando tão obstinadas para o trabalho, e pensei (após um longo respiro): como eu odeio gente!”, confessa Amanda, a personagem da atriz, ao marido Clay (Hawke), na frente da janela de sua casa no Brooklyn, pouco antes de tomar a decisão que engata a trama, alugar uma casa de praia de luxo nos Hamptons para a família ter um respiro da insanidade de Nova York. E, claro, se isolar de outras “gentes”.

“Amanda é complicada e surpreendente. Trabalhei muito nas entrelinhas para o público compreender de fato quem ela era, sem que ficasse desagradável”, afirmou Julia Roberts durante as filmagens. “O mundo depois de nós” parece inicialmente tratar de uma típica narrativa de viagem. A mansão é uma barganha, “difícil de acreditar”. Amanda, Clay e os dois filhos adolescentes imediatamente se apaixonam pela cozinha equipada, a piscina e a proximidade da praia.

Mas as coisas começam a ficar “hitchcockianamente” estranhas em “O Mundo Depois de Nós”, com um petroleiro avançando pela areia, hordas de veados cercando o jardim da casa e dezenas de flamingos ocupando a piscina, “como se quisessem nos alertar sobre um perigo iminente”. “O tema da incerteza chamou minha atenção. Adorei a forma como Rumaan (Alam) o usou para guiar os conflitos entre os personagens. Foi uma experiência incrível observar como eles navegavam pelo desconhecido enquanto a sociedade entrava em colapso”, afirmou o diretor.

Livro e filme se tornam um quase terror a partir de um de seus momentos cruciais: a chegada, inesperada, noite adentro, dos donos da casa, o G.H. de Mahershala Ali e, na adaptação audiovisual, sua filha Ruth (Myha’la). No livro, a personagem é a mulher de G.H. A mudança se justifica ao possibilitar uma subtrama que aumenta ainda mais a tensão. Nos dois casos, os personagens são negros e, aparentemente, muito mais ricos do que Amanda e Clay. Mas será mesmo? E, se duvidamos disso, apesar de todas as evidências contrárias, estamos sendo (leitor, espectador, personagens) preconceituosos? As cenas de Roberts e Ali são especialmente intensas e ilustram bem a subversão narrativa proposta por Alam.

“G.H. é fruto da sua geração, o que torna a questão racial mais fascinante. A filha, da Geração Z, confronta quaisquer sinais de discriminação, mas ele mede as palavras para alcançar seus objetivos. Em alguns momentos, sorri pra Amanda, mas, quando ela se afasta, seu semblante muda, pontuando que, até certo ponto, finge ser alguém que não é”, pontua Ali.

Questões sociais abordadas no filme

É como se Rumaan Alam perguntasse a todos os envolvidos: “Adivinhe quem vem para jantar?” A referência ao filme de 1967 de Stanley Kramer, com Sidney Poitier apresentado pela noiva, branca, aos pais em choque, embora liberais da ultraprogressista São Francisco, não surge por acaso na conversa do escritor com o GLOBO. Entre as questões investigadas no livro pelo filho de imigrantes do Bangladesh criado no estado de Nova York, casado com um parceiro e pai de duas crianças, se destacam as nuances das relações de classe e raciais nas elites americanas, que tanto impressionaram Obama.

Suas mudanças propositais de estilo narrativo de “O Mundo Depois de Nós” não distraem escritor, diretor, elenco e leitor do centro nevrálgico da trama: o isolamento nosso de cada dia, mesmo frente ao fim dos tempos. Uma certa sensação de obrigação ao falar, ouvir, enxergar o outro. Inclusive e especialmente os mais à margem da normalidade, como o Danny de Kevin Bacon.

A sensação de sufocamento geral e a data de publicação do livro enganam. Ele não foi escrito durante a pandemia, estava pronto quando a Covid-19 assolou o planeta. O autor de “O Mundo Depois de Nós” define o paralelo inevitável como “acidente temporal”. “Fiz um exercício sobre o isolamento que já vivíamos, antes mesmo da pandemia. A tecnologia nos traz a sensação de conexão imediata, mas os laços humanos eram muito mais concretos na geração de nossos pais. Em meu entorno, percebia mais e mais pessoas se dizendo solitárias antes de qualquer lockdown, e traduzir essa sensação foi o que me motivou”, conta o escritor, antes de interromper delicadamente a conversa para responder por mensagem de aplicativo uma pergunta urgente de sua filha.

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Caroline Gouveia

Caroline Gouveia Fortino 22 anos, formada em Jornalismo pela Faculdade das Américas (FAM). Redatora e produtora de conteúdo dos portais N10 notícias e Todo Canal, com experiências no Notícias da TV e Metropoles na coluna do Leo Dias.

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